Como Pastor Darcy falou sobre anonimato na palavra pregada [8.jan], segue um texto para reflexão:
"Alguns artistas se tornam famosos e seus nomes são amplamente conhecidos. Não significa necessariamente que suas obras são conhecidas por todos. Em contraste, há milhares de artistas desconhecidos – basta consultarmos um dicionário artístico-biográfico para vermos vários. Pelo menos os especialistas os conhecem. Tirando esses, existem muitos sobre os quais ninguém jamais ouviu falar. Alguém teve de construir determinada estátua que encanta a todos que viajam a certo lugar com olhos atentos. Talvez ela seja bastante apreciada pelos moradores locais. E quando eles dizem que amam sua cidade, aquela estátua faz parte da imagem do lugar. Se ela não estivesse lá, muitas pessoas sentiriam sua falta. A estátua é famosa – mas e o artista? Quem o conhece? Pergunte às pessoas quem fez o marco de Copenhagen, ou quem desenhou o monumento na praça Trafalgar e os leões que todos conhecem.
A maior parte do trabalho do artista é anônima. Nesse sentido, ele tem o mesmo destino que muitos que trabalham em benefício público. Quem fez o trem no qual você viaja? Quem foi o gênio que criou a programação da televisão? Quem projetou aquele objeto prático que você utiliza todos os dias?
Talvez o anonimato não seja um destino ou uma tragédia, mas algo muito normal. O elogio por aquele monumento ou por aquele objeto prático é a maior recompensa que alguém pode receber. Um belo cartaz – quem o desenhou? Quem se importa? Talvez os colegas do artista o conheçam. Os especialistas saberão. No entanto, a pessoa será esquecida com o tempo. Quem conhece o autor daquela linda estátua na Babilônia, no Egito, na Grécia ou em Roma? Quem fez a famosa estátua de Marco Aurélio na Colina de Capitólio, em Roma? Ou quem erigiu o obelisco de Washington?
Sinto que tudo isso é correto. A fama acompanha a obra, se ela for bem feita.
Panofsky, em seu livro sobre Suger, fala disso de forma sábia. Ele compara Suger a Michelangelo. Surger foi um grande bispo na França do século 12. De muitas formas, ele foi responsável pelo estilo gótico. Foi o construtos de St. Denis, a pessoas que escolheu e orientou os artistas. Ele foi um homem muito importante em sua época – embora só os especialistas tenham ouvido falar dele. Não obstante, todos que admiram o estilo gótico exaltam a visão de Suger e suas habilidades.
Suger, afirma Panofsky, buscava fama, mas era algo centrífugo. A fama estava nas coisas que ele fazia. A fama de Michelangelo era centrípeta, ou seja, ela sempre termina no próprio Michelangelo. Vejamos a “Pietá”. O que buscamos? Uma linda Madona? Uma emocionante imagem do corpo de Cristo? Ou vemos Michelangelo? Isso também vale para suas outras obras. Assim, acabamos esquecendo o que estamos observando e ao sairmos não dizemos: “Como o juízo final é terrível e jubiloso!”, mas “foi Michelangelo quem fez. Como ele era grandioso!”
Você se identifica com Suger ou com Michelangelo? Podemos criticar Suger por alguns de seus ideais. Se dissermos que as igrejas católicas são exageradamente adornadas, que a arte extrapola os limites, em certo sentido estaremos criticando a visão de Suger. Contudo, o seu ideal de fama é mais cristão que o de Michelangelo ou, pelo menos, que o das pessoas que lhe deram esse louvor.
Não devemos buscar fama – isso pode acender o pecado do orgulho. Pode implicar a perda de humildade. E o louvor, que pertence a Deus, não vai ser dado a ele. Essa é a lição que aprendemos em Eclesiastes. Todas as coisas são vaidade e até o mais elevado louvor desaparece no ar após um ano, um século ou centenas de anos. Porém, a significância de um trabalho bem feito está na alegria de ter feito algo útil para alguém e, dessa forma, ter contribuído positivamente com o fluxo da história em direção ao reino de Deus. Os jovens talvez sonhem em tornarem-se famosos. Contudo, isso pode ser perigoso. A busca pela fama fácil pode ser comprometedor e incentivar a desonestidade. É melhor sonhar em desenvolver seus talentos, fazer o melhor que puder. Deixe que os outros decidam, julguem e elogiem. Não deixe que a fama o engane. No final, você terá de prestar contas diante do supremo juiz, o grande Senhor Todo-Poderoso. Provavelmente, você dirá: “Senhor, fui apenas um servo indigno de ti, mas tentei usar meus talentos. Não fui perfeito, mas o Senhor me deu tanto que tenho que agradecer-te por qualquer coisa que o mundo diga que produzi.”
No fim, a arte é anônima. Quem sabe o nome dos grandes escultores das catedrais góticas? Quem sabe os nomes dos arquitetos que desenharam um prédio construído recentemente? Sabemos que um bom desempenho jamais é fruto de uma única pessoa, que ela precisou de ajuda de outras. De certa forma, uma delas se torna a marca, o registro. As pinturas, as músicas, os belos desenhos de carros e outros produtos industriais são anônimos. É bom que sejam assim, pois apenas complementamos o mundo que Deus nos deu para desenvolver, para embelezar. Acrescentamos à vida de muitos e amamos nossos vizinhos. Essa deve ser nossa maior conquista."
[ROOKMAAKER, H.R. A arte não precisa de justificativa. Viçosa, MG: Ultimato, 2010. p 67-70.]
[o caminho]
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