Relatei certa vez a história de um homem idoso que estava morrendo por causa do câncer. A filha desse homem pedira ao sacerdote da região para visitá-los e orar com o pai. Quando o sacerdote chegou, encontrou-o deitado na cama, com a cabeça apoiada em dois travesseiros e uma
cadeira vazia ao lado da cama. Supôs que o velhinho tivesse sido informado da visita.
- Acho que você estava me esperando — disse o sacerdote.
- Não, quem é você? — perguntou o idoso.
- Sou o novo membro de sua igreja . Quando vi a cadeira vazia, achei que você sabia que eu estava para aparecer.
- Ah, sim, a cadeira. Você se importaria de fechar a porta? Intrigado, o sacerdote fechou a porta.
- Nunca contei isso a ninguém, nem mesmo à minha filha — disse o homem sobre a cama —, mas por toda a minha vida nunca aprendi a orar. Aos domingos, na igreja, costumava ouvir o sacerdote falar sobre oração, mas aquilo tudo entrava por um ouvido e saía por outro. Por fim, absolutamente frustrado, eu disse a ele: "Não entendo nada do que você fala sobre oração". Então ele abriu a última gaveta da mesa e falou: "Aqui está. Leia este livro de Hans Urs von Balthasar. É um teólogo suíço. É o melhor livro sobre oração contemplativa do século XX". Levei o livro para casa e tentei ler, mas logo nas primeiras três páginas tive de procurar doze palavras no dicionário. Devolvi o livro ao sacerdote,
falei "obrigado" e, em voz baixa, completei: "Por nada". Aquele homem idoso continuou seu relato.— Abandonei todos os esforços para aprender a orar, até que, um dia, há mais ou menos quatro anos, meu melhor amigo me disse: "Joe, orar é uma simples questão de ter uma conversa com Jesus. Minha sugestão é a seguinte: sente-se numa cadeira, coloque uma cadeira vazia na sua frente e, pela fé, veja
Jesus nessa cadeira. Não há nada de fantasmagórico nisso porque ele prometeu: 'Estou convosco todos os dias'. Portanto, apenas fale com ele e ouça da mesma forma que está me ouvindo bem agora". A partir daí, experimentei e gostei tanto que faço isso duas horas por dia. Apesar disso, sou muito cuidadoso. Se minha filha me visse conversando com uma cadeira vazia, teria um ataque de nervos ou me mandaria para um hospício.
O sacerdote ficou profundamente comovido com a historia e incentivou aquele senhor a continuar sua jornada. Em seguida, orou com ele, o ungiu e voltou para a residência paroquial. Duas noites depois, a
filha ligou para contar ao sacerdote que seu pai havia morrido naquela tarde.
- Pareceu a você que ele morreu em paz? — perguntou o sacerdote.
- Sim. Quando eu saí de casa, por volta das duas da tarde, ele pediu que me aproximasse da cama, contou uma de suas velhas piadas e me deu um beijo no rosto. Quando voltei da loja, uma hora depois, encontrei-o morto. Mas aconteceu uma coisa estranha. Aparentemente, um pouco antes de papai morrer, ele se inclinou e repousou a cabeça sobre a cadeira ao lado da cama."
[Extraído do Livro O IMPOSTOR QUE VIVE EM MIM.]
[Colaboração de Eliane F. Silva - IEPCJ Maria Goretti]
[o caminho]
Eu leio!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário